Nessa ordem. Mas a compreensão não isenta a ação da devida correção.
Se engana aquele que acredita que ao apontar as falhas de alguém irá compreendê-las, ou corrigi-las. Se engana aquele que acha que palavras e discursos bem colocados provocam grande transformação. A compreensão do outro e a transformação só podem acontecer quando há humildade e abertura. Tanto do outro quanto de nós mesmos.
A maioria de nós olha as falhas e os defeitos dos outros e os julga com grande convicção, no entanto, esquece de olhar as próprias falhas e os próprios defeitos. A compreensão do outro só acontece de fato quando temos humildade suficiente para olhar de frente nossos próprios defeitos e falhas, nossas limitações; quando somos humildes o suficiente para aceitá-las e aceitar que não somos perfeitos e não conhecemos tudo. Na verdade, estamos bem longe disso. E a transformação (a nossa) começa exatamente aí. É no reconhecimento e na aceitação que a transformação tem permissão para começar, terreno fértil para brotar. E é somente a partir daí que se torna possível compreender o outro.
Compreender a nossa história individual nos permite que modifiquemos nossa ação no mundo, e é através das nossas ações autênticas e verdadeiras (conscientes) que ensinamos e melhoramos o mundo a nossa volta. E é na família que isso precisa começar; é a nossa ‘escola’.
Mas é importante registrar que a compreensão do outro, ou de si mesmo, não isenta nenhum de nós da correção do erro. Podemos compreender o porquê de uma atitude errada, violenta; compreender o caminho que levou até a ação, mas isso não significa que a ação não deve ser corrigida e/ou reparada, com punição severa se a lei exigir.
Às vezes surgem argumentos na tentativa de inocentar aquele que agiu muito mal, porque ele teve uma infância ruim, muitos traumas etc. É possível compreender, e cabe auxílio (se a pessoa desejar), mas passar a mão na cabeça como se fossem puras vítimas das circunstâncias não resolve, porque não educa. Na realidade, a verdadeira compreensão implica atitudes e correções coerentes e adequadas, exatamente o contrário da falta de atitude ou da atitude extremada.
Eu não sei vocês, mas eu conheço pessoas que nasceram nos mesmos ambientes, sofreram traumas e tiveram poucas oportunidades, e enquanto um fazia más escolhas, a outra buscou estudar e trabalhar honestamente, apesar das dificuldades e obstáculos. Se acolhemos uma como vítima das circunstâncias e lhe permitimos tudo, onde está o mérito do esforço e da superação da outra pessoa?
Isso é escolha, e mostra força de espírito.
A gente compreende, mas corrige.
Não é exatamente isso o que fazemos conosco quando percebemos nossas falhas? (bom, pelo menos deveria ser, se quisermos nos tornar humanos, e decentes).
Quando não há aceitação, não há espaço para transformação; e quando não há transformação, aquilo que não deveria ser normalizado, se vulgariza e os erros se perpetuam.
Abra os olhos e olhe para si,
Somente depois olhe ao seu redor.
Incline sua cabeça com humildade verdadeira,
Só assim será possível compreender a frase:
‘Quer mudar o mundo? Comece por você!’

Há uma velha lenda, muito bela, que gosto muito, e vou finalizar o texto com ela, só para refletirmos.
Um aluno em visita ao seu Rabino pergunta:
- Rabbi, outrora havia homens que viam Deus ‘face a face’; por que não acontece mais isso?’
E o Rabino respondeu:
- Porque ninguém mais, hoje em dia, é capaz de inclinar-se suficientemente. É preciso curvar-se muito para beber do rio.
Sábio é o humilde que reconhece que tem muito a aprender e que precisará ser corrigido, às vezes, muitas vezes.
Me diz o que pensa a respeito disso? Eu gostaria muito de saber.
Beijo na testa e boa semana.
Que Deus nos abençoe! Mas ainda mais importante, que nós busquemos por Ele, verdadeira e humildemente.
Tati.
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